No final do arco-íris, da trilha de tijolos amarelos, da canção de ninar, dos pássaros azuis e de sonhos além dos holofotes e Hollywood, ali nasceu uma estrela, que cantava desde os 2 anos e desde então cantava e canta e cantará, faça chuva ou faça sol, uma menina que veio do nada, do Michigan ou talvez do Kansas. Seu nome é Frances Gumm, dentuça de pernas grossas. Seu pai era “bicha” e sua mãe pouco se importava. Ninguém lembra dela, não existia amigos, nem aniversário, apenas um dia após o outro, um filme após o outro, um marido após o outro. Não havia descanso. Qualquer trégua. Seu nome agora é Judy Garland. E ela tem três filhos.
Então, Rupert Goold filma o réquiem de uma atriz esmagada pelo exaustão, um cometa insone, sem rumo, sem casa, sem dinheiro, os filhos a tiracolo durante os últimos suspiros, a garganta já seca de tanto cantar, a voz entalada na garganta, a maquiagem sempre borrada, as olheiras gigantescas, os comprimidos para sorrir, para dormir, para persistir. Renée Zellweger encarna esse corpo magérrimo, quase esquelético, um fantasma de Oz, errático, aleatório, indo à lugar nenhum, caminhando em qualquer direção. E talvez, talvez essa caminhada seja a mesma de todos os dias de sua vida, apenas o suficiente para continuar. E talvez isso seja apenas uma ingênua esperança. Sim, o filme é sobre esperança.
Assim, tal projeção culmina em 1969, em Londres, no cabaré de Bernard Delfont. Não uma cinebiografia completa, mas apenas um momento, alguns meses, o fim do arco-íris donde se vê o pote de ouro, uma salvação rara ou a oportunidade de encarar e calar seus críticos. Um filme de personagem. Um filme de atriz. E que atriz… Ao final, sua genialidade e seu espírito indomável se revela como uma figura inspiradora e não trágica. O filme explode. Emociona. Big Bang. Nasce uma estrela. E a estrela canta em algum lugar, além do arco-íris, “somewhere over the rainbow”. E em lágrimas, o público aplaude, se emociona e até esquece do lugar comum.
RATING: 67/100
TRAILER
