Pacarrete

Por Eduardo Benesi

A hora da estrela (de)cadente. PACARRETE parece um ser ilhado em sua solitude expansiva avizinhando o próprio folclore grandiloquente de si. A mulher-osso-carne e nenhuma meditação baila seu salto sobre o apogeu do chão em um filme que fala sozinho gritando conosco. É lindo isso tudo de um diretor estreante. Gravei aqui: Allan Deberton.

Guardo em um relicário aquele prólogo de chamegar poesia (o grande momento musical da 43a. Mostra de Cinema). De vassoura faz-se tudo, até dancinha, ela imagina, tudo existe, inclusive a poeira invisível deixada por transeuntes que nunca passaram. O Brasil-Ceará-Cinema pinta e borda o seu adverbio modal na vera competência de Marcelia Cartaxo – impecável em seu camarim de dentro. No bate-papo pós-filme a atriz diz sem falsa modéstia, sem fingir não ser Pacarrete, como quem joga um biscoito para cima e degusta a própria coroa sem nem culpa: ‘eu já esperava o prêmio de melhor atriz em Gramado’.

Iracunda, gritona, afrontosa, preciosista, segura, Pacarrete explode o que sente em sua fúria dantesca e autismo mediúnico. Me rendia ao seu carisma imperativo e por vezes me irritava com a sua veemência pedante. A bailarina que pediria 7 toalhas brancas, a artista querendo-exigindo-impondo oxigênio. Entre a sístole e a diástole mora alguém duas vezes quem, entre o silêncio-lua e o sol-atrevimento em uma obra que nos estica as mãos enquanto pede um beijo-cortejo.

Beira em mim um musical enrustido e semi-alegre de seu mau-humor. Cresce nos distribuindo suas melhores cores nas piores horas e fica melhor ainda quando ousa na ponta dos pés.

RATING: 78/100

TRAILER

Article Categories:
FILMES · RIO · MOSTRA SP

Comments

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.