A Sombra de Stalin

Em A SOMBRA DE STALIN é “impossível distinguir quem é homem, quem é porco”. Nem era do interesse da política britânica, nem dos soviéticos, tal distinção. A verdade sobre o Holodomor – a fome provocada por Stalin no conhecido holocausto ucraniano – foi amordaçada em um conluio político e imoral tão corrompido que o próprio George Orwell se inspirou do fato para escrever sua “Revolução dos Bichos”, uma alegoria donde os homens maltratavam tanto os animais que a bicharada foi à rebelião para se transformar em algo pior. Evidentemente, o livro é uma das distopias orwellianas sobre o socialismo (a outra é “1984”), ou aquilo no qual o movimento se transformou, não importa se uma ditadura de homens ou a tirania de porcos, fato é que tais eventos são a chave (ou reflexo?) de uma realidade incontestável do que hoje vive a Ucrânia pelas heranças de Stalin ou do que hoje se vê na Europa, incapaz de se unir para proteger seus valores e confrontar a verdade.

E é para entender o presente, que Agnieszka Holland vai ao passado e NA ESCURIDÃO, vai aos anos 30 e sob as lentes de Gareth Jones, não o sr. Jones da granja dos Porcos de um livro qualquer, mas o jornalista britânico que se infiltrou na Rússia para denunciar o governo de Stalin. Então, um filme que descreve os mecanismos do stalinismo, enquanto a investigação adentra os círculos do inferno, confrontando a realidade com idealismo, atrocidades com coragem, e isso de uma maneira evocativa, ainda que simples e direta.

Portanto, uma história atemporal, sem obviedade jornalística, chantagem emocional ou mesmo um final feliz explícito. O que o torna mais urgente e relevante frente ao nosso cotidiano de notícias falsas, realidades alternativas, corrupção da mídia, covardia de governos e indiferença de pessoas. O suspense fica na determinação do protagonista frente ao oportunismo cínico e covarde, o que nos leva a pensar que diante de tantos conformistas e egoístas de hoje, nos falta alguns Orwells e Jones. E é por isso que existe o cinema, aliás esse filme.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela WestEnd Films , incluso entrevista com a diretora
RATING: 69/100

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FILMES · BERLIM · MOSTRA SP

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