Ad Astra


Da FUGA PARA ODESSA à CIDADE PERDIDA DE Z, faltava a James Gray se aventurar no espaço, entre as estrelas e em busca do pai: Uma viagem aos confins do sistema solar, lá longe em Netuno; um filme meditativo e existencial em busca da humanidade, com ecos distópicos de HIGH LIFE de Denis, INTERESTELAR de Nolan e SOLARIS de Tarkovsky, mas sobretudo no “coração das trevas”, o romance de Joseph Conrad que nos inicia no APOCALIPSE NOW de Coppola. Um conto que parte de UMA ODISSEIA NO ESPAÇO e “per aspera ad astra” vai do cosmos à uma jornada edipiana de um filho em busca de suas raízes, um cinema que parte do colossal em direção ao mais terreno, os pés na terra, as pessoas, suas crises e fraturas. E todo esse universo sobre Brad Pitt, o cosmonauta a deriva no espaço, em confronto com o infinito e sua possível evolução.

E de novo, como outrora o fez em Z, o cineasta nos embarca nesse filme-exploração donde o protagonista assume a jangada-espaçonave, não pela fama, nem pela medalha, ou o “surto”, mas como forma de escapar de uma realidade da qual não se sente parte. Então, a tarefa é buscar esse pai, Clifford McBride, senão Tommy Lee Jones, um homem que ele mal conhece, o homem até então desaparecido, morto e agora renascido e autoproclamado mestre absoluto de uma energia que todos desconhecem, um homem que perdeu todos os traços de empatia, todos os valores que lhe tornaram alguma vez humano, um homem cujo projeto lhe custou o sentimento, a emoção, a alma. Essa é a missão, o filme, a projeção não para uma galáxia espetacular qualquer, mas sim ao mais íntimo do ser humano.

Então, uma ópera espacial donde o minimalismo governa o design com solenidade hipnótica, reflexiva, quase litúrgica. O ritmo bem lento, a câmera em turbilhão, em êxtase na ausência de gravidade, os infinitos close-ups de Brad Pitt, até que seu olhar se torne o nosso, e diante da tela, do tempo, do espaço, nos mesmos – o público – ficamos à deriva, perdidos nesse cinema atemporal, fora de alcance, fora do comum, fascinados e arrebatados. Cada um em busca de seu próprio espaço. De seu próprio pai.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Twentieth Century Fox, incluso entrevista com a diretor e notas de produção
RATING: 84/100

TRAILER

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FILMES · VENEZA

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