O Outro Lado do Vento


De um, ou vários acidentes divinos, de uma morte anunciada, Orson Welles pensou (n)outro evento, algo fora de controle, uma história feito do zero, improvisada, ficção e realidade em fluxo continuo, olhares, cheiros, cores, campos e contracampos. Um filme, um documentário, o filme dentro do filme, dos bastidores, da crônica, da biografia de um cineasta que idealizou CIDADÃO KANE, prometeu a GUERRA DOS MUNDOS, se perdeu nA MARCA DA MALDADE e, agora, está velho, em desgraça, esquecido e traído nos anos 70 (ou 80?), não importa.

Seu filme é uma lenda (in)acabada, uma aventura através do tempo e por toda a Hollywood. E é de enlouquecer, nos enlouquecer, pelo jorro de imagens e frames e cortes, e cortes e mais cortes, tudo muito frenético, senão fragmentos de um filme em dois filmes (ou três?): Uma parte é (pseudo) documentário, gravado por um cinegrafista imaginário que conta a história do último dia de um velho diretor. Em paralelo, há o próprio filme que o cineasta está fazendo, pausado por falta de verba (ou ironia?). Por fim, há os episódios desse dia em particular, os delírios, a festa, um passeio final ao drive-in para umA ULTIMA SESSÃO DE CINEMA. E tudo se (con)funde na montagem, nas cores (ou falta delas), nos diversos tamanhos de janela de exibição, dos grãos, da estética, dá vertigem, uma overdose estética. Você acompanha ou se perde. Você pisca e perde algo, alguém, Claude Chabrol, Curtis Harrington, Dennis Hopper, tudo está no filme ou foi cortado dele.

É autobiográfico? O diretor diz que não, mas sim, só pode ser. Então, John Huston encarna na tela, Jake Hannaford, e na vida, Orson Welles: Três personas desmitificando Hollywood, O OUTRO LADO DO VENTO, das estrelas, das máscaras, senão a escuridão que assola o café filosófico de estúdio, a indústria cinematográfica em si, os tais sonhos que se filma, que se é obrigado a fazer, mas que por opção própria jamais faria. Então, um filme dentro de um circo, a sátira ao cinema europeu de um rapaz obcecado por uma garota, seguindo-a por todos os cantos e lugares e cenários, algo amador, algo hipnótico, uma gloriosa sensação de liberdade e inocência. Oja Kodar está nua nesse filme. O diretor está apaixonado por ela, dentro e fora das telas. São amantes. E tudo se torna mais intrigante nesse filme duplo de vidas duplas, um jogo de espelhos, fumaça e tufões. Seria vingança? Seria a SOBERBA? Não… Essa é apenas a festa de 70 anos de um diretor. E ele morreu no final. Rosebud.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Netflix, incluso notas de produção e entrevista com o diretor e elenco
RATING: 82/100

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FILMES · VENEZA · FILMES LGBT

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