Yomeddine


Deus, por YOMEDDINE, tão manso e humilde, eu lhe agradeço. Do desejo de ser estimado, amado, conhecido, honrado, louvado, preferido ou aprovado, por esse filme, eu me liberto; pelo receio de ser humilhado, desprezado, reprimido, caluniado, esquecido, ridicularizado ou infamado, afinal por esse cinema, senão a ladainha dos humildes, a saga de um homem que perdeu tudo e – por tudo o que perdeu – foi aos céus porque é pobre e ignorante, ó senhor, com os olhos marejados de lágrimas, dou lhe graças. Dou-lhe as Palmas, A.B. Shawky por conceber esse filme. Por contar a (fictícia? Ou verdadeira?) história de Rady Gamal, Ahmed Abdelhafiz e o pobre jumento, todos em peregrinação pelo Egito e, sim, rumo aos nossos corações.

Então, lá vai a carroça, poucos pertences, um leproso e um órfão núbio e mais o burrico… Todos em busca de uma família, algo para chamar de lar. Portanto um road-movie, como tantos outros, mil vezes filmado, quase no lugar comum, mas não o é pelo protagonista que se define pela humanidade e não pela doença. O cineasta coloca sua câmera nesse personagem, um homem que trabalhava no aterro, recuperando itens e os vendendo, cuja esposa se foi, o pai o abandonou. Um homem marcado por uma doença antiga, agora erradicada, mas que o mantém preso – e por toda a sua vida – em Abu Zaabal, refém de suas cicatrizes, condenado a viver longe de todos ou ao menos mascarado sob um véu.

E é no “mais que nada”, senão o olhar dos excluídos, isso quase no limiar do melodrama ou mesmo de um velho clichê, que se filma um conto através de um Egito desconhecido, tal qual o povo egípcio vive, marginalizado, autêntico, extremamente peculiar, nem bom, nem ruim, sem qualquer glamour ou arabescos cinematográficos, apenas o documentário (realista?) desse homem, esse menino e um percurso de personagens pitorescos. Uma viagem espiritual, uma odisseia tragicômica, tudo muito leve, luminoso. Quase uma prece que, ao final, ame ou deixe, nos faz questionar, ponderar e nos emocionar sobre o dia em que todos serão julgados pelo que são, não pela aparência, não como animais, nem santos ou mártires, somente como homens iluminados ao caminho dos céus, isso no dia do julgamento ou, em árabe, YOMEDDINE.

RATING: 69/100

TRAILER

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FILMES · CANNES · RIO · MOSTRA SP

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