Entardecer


Desde o início se vê essa mulher, tão sozinha e perdida em seu mundo, num mundo que ela tenta entender, mas não consegue. Então, um conto, um mistério em si mesmo, aonde o público é convidado a encontrar, junto com ela, um caminho através desse labirinto de fachadas e camadas. E por essas idas e vindas pessoais ao longo da busca de Irisz por seu irmão e, consequentemente, o significado desse mundo, vemos a protagonista desorientada entre a luz e a escuridão, a beleza e a ameaça, incapaz de lidar com tais dilemas. László Nemes filma, senão, a história de uma garota, o desabrochar de uma estranha flor. Sua lente lhe seguindo de perto, ao redor, suspirando no cangote, em uma abordagem íntima (ou incomum?) para um filme de época.

São, afinal, os afrodisíacos de um cinema que evoca a história de um indivíduo, da civilização, o estado do mundo e todos na encruzilhada moral. Estão, ali, no coração do continente, no auge do progresso, sem ser inscritos na história, mas sendo a história pessoal de uma jovem como o reflexo de um processo que é em si a própria Europa e seus (in)consequentes regimes, genocídios, revoluções e a guerra. SUNSET, aliás, se encrava antes aos estalidos da Primeira Guerra, em algum ponto do Império Austro-Húngaro, de uma dúzia de idiomas e muitos povos, com suas capitais florescentes e esplendor cultural. E, no entanto, sob tal chapéu florido, todos estão cegos às forças da destruição (ou extremismo?) que alimenta essa essência.

Então, o cineasta repete seu exercício de estilo e nos mergulha nas incertezas e fragilidades dessa mulher, como o fez nO FILHO DE SAUL (embora sem tanta força ou significados). E o faz através de um thriller, um vislumbre, um fiapo de história, uma abordagem espacial, um filme em constante movimento que se contrapõe ao SUNRISE de Murnau, mas repete as mesmas perguntas sobre a aurora e o crepúsculo dessa civilização, ame ou deixe.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Playtime, incluso entrevista com o diretor e notas de produção
RATING: 71/100

TRAILER

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FILMES · TIFF · VENEZA · ROTTERDAM

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