O Nascimento de uma Nação


No olho do furacão social, donde um cinema “tão branco” nos inflama, uma historia que outrora D.W.Griffith filmou e, agora, Nate Parker convenientemente nos conta, ele mesmo na pele da escravidão, da rebelião de Nat Turner e O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO. E pouco mais de um século depois de seu antecessor, daquele controverso pensamento, hoje reclamado, reconsiderado e refeito, mas cujo sentimento, (a)pesar de Hollywood, dessa indústria cinematográfica, ainda ecoa, ainda dói.

Então, “dê-me a liberdade ou dê-me a morte”. Esse é o inicio, o amor, a angustiante reverência: A nação renascida pelos olhos de uma família americana, que percorre a Guerra Civil, o assassinato de Lincoln e a consequente reconstrução desse povo, um conto imortalizado pelo romance de Thomas Dixon, pelo polêmico cinema de Griffith e, porque não, em Sundance 2016, noutro filme, talvez na bandeira de um movimento de diversidade, aceitação e compreensão. Afinal a sina dos novos tempos e, não à toa, ovacionado em sua Premiere.

Um filme que requer atenção por (com)partilhar seu título com o controverso clássico do cinema mudo. E apenas isso: Porque se o precursor estava enraizado no puro medo dos negros tomarem a politica, ou qualquer posição de alto escalão, mesmo um simples casamento com alguma mulher branca e, baseado nesse temor, a justificativa de se fazer o Ku Klux Klan para “glorificar” a supremacia branca ou, em outras palavras, nada mais que mera propaganda cinematográfica, não muito diferente das de Goebbels contra os poloneses na Alemanha Nazista; Esse jovem diretor, talvez para corrigir tais erros, sem ser tendencioso, sem invocar a raiva latente, filma a identidade de um povo, pelo tempo, pelas gerações, cada infortúnio, e como isso nos afeta até hoje, agora.

E assim, emulando o subtexto do #OscarSoWhite, a leitura de Griffith e esse imaginário de cultura racista sendo “celebrado/postergado” em Hollywood, Parker opta pela contramão ao (tentar) corrigir esta disposição para a injustiça. Essa é a proposta, o tema inicial. O quão o sistema vai se aprofundando num modo específico de opressão e como toda a humanidade se torna cúmplice dessa situação, sem querer, ou não. Talvez por mera passividade. Não importa… O manifesto foi feito: A câmera como arma, o cinema como munição. E um grande filme para se pensar.

(*) Crônica livremente inspirada no material cedido pela William Morris Endeavor Entertainment, incluso a entrevista cedida pelo diretor em Sundance
RATING: 74/100

TRAILER

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FILMES · SUNDANCE · TIFF · MOSTRA SP

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