Um filme de personagem, de Vincent Lindon, desempregado, desesperado, 51 anos, seus temores, seus dilemas, o mais íntimo ser (humano) exposto na tela, sem efeitos, sem nuances, apenas um homem diante da sociedade e desse confronto descomunal, (sobre)vivendo sob tais valores, nada mais que (outro) alguém indefeso diante da brutalidade e do câmbio que governam nosso mundo. Sim, também um recorte genuíno de Stéphane Brizé sobre o status quo de um país, de um povo, do que é certo ou errado, mesmo quando não se há mais esperança.
Um filme de guerrilha, um documento registrado no osso, baixo orçamento, atores não profissionais e luz natural. Basicamente esse ator, seu ofício e sua historia, na tela, a saga de um individuo (que individuo?) em busca de um trabalho (que trabalho?) nesse mercado estritamente hermético, claustrofóbico, falo metáfora e literalmente. Um lugar sem opções, sem desculpas, as paredes cinza e as regras bem claras, monitoradas e escancaradas ali na sala escura, diante das câmeras e de nossos olhos.
E ao centro de tudo, dessa vida comum, o diretor registra um ponto de vista em cinemascope, pelo qual orbitam o livre-arbítrio, o justo, o correto, também o desespero, o capitalismo inconsequente, o passado de um homem que dedicou seu corpo, seu tempo e energia, durante 25 anos por uma empresa que, sem hesitar, o descartou porque seria mais barato fazer o mesmo em outro país. Uma pessoa rejeitada não pelo que é, seu caráter, seu trabalho, mas porque nesse mundo, o verdadeiro “valor” é o dinheiro e, pelo qual, todos são mera engrenagem para o enriquecimento de acionistas invisíveis. Sim, uma situação moralmente incontrolável, donde o homem, qualquer homem, ou se torna cúmplice, ou parte para longe em busca da insegurança. Isto é a essência deste filme: A violência tênue do mundo. Um mundo infelizmente nosso e cujo retrato nos deixa perplexo.
RATING: 69/100
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