A Colina Escarlate


A COLINA ESCARLATE de vários tons, o vermelho, o verde, o dourado; Em vários matizes, acetinados, metálicos, irisados; No bater cadenciado das asas de uma borboleta, uma mariposa, ou talvez de um mausoléu que nos remete à um gigantesco caleidoscópio de tecidos, objetos e sensações, sempre a nos seduzir, como insetos pela luz, como o bruxulear de uma vela, os ombros nus a rodopiar pela sala, ao largo da valsa e das garras dessa sombra escarlate, mulheres, fantasmas, olhares ou sombras… Eis o requinte que Guillhermo Del Toro filma, não um terror, nem um suspense, mas essa estranha luz captada pela lente e decomposta em mil espectros, o etéreo refretado numa história de duques e baronetes, de tempos de BARRY LYNDON, um passatempo suave, delicado, ligeiro como a valsa no salão, a música de um piano, ou o inverno em Allerdale Hall.

E dessa imagem latente, donde se percebe o nitrato, a ferrugem, o pigmento carcomido de um lugar em ruinas, é que se descreve os anseios de aventura, um pouco de romance, um conto de fantasmas e fantasias, inveja e maldade, senão as palavras de Jane Austen, os tormentos de Mary Shelley, aprisionados em um edifício frio, edificado na mais fria sepultura, na nevasca sobre a argila fina, sangrenta, para que nossa imaginação, aos estalos e rangidos, faça a sua parte e leve o seu susto.

Que virá através deste cinema, cedo ou tarde, porque as paredes respiram, o vento sopra e a casa nos engole em sua decadência. Pela infância, a mãe nos avisa: “Cuidado com a colina escarlate”. Sobre a lareira, outro aviso, “que meus olhos vão da colina às trevas”, e por essa colina, curiosos, fascinados, o público desce ao inferno, aos poços de argila para, ali, bebericar do espinho de fogo, o amargor do passado, dos segredos, noite afora, corredor adentro, cada espírito a nos sussurrar, contando seu fim, seus (des)amores, sua tragédia mórbida, enquanto Mia Wasikowska, tão frágil, os ouve pelo Gramofone, os anos jubilosos, o horror pelo amor. E ao final, num duelo de facas e cutelos, borboleta e mariposa se debatendo pelo casarão, por vingança, pelo passado ou pacto de sangue, voltamos ao início, à colina escarlate de um única cor, curiosamente o branco. A cor da cal, do leite, da neve recém-caída. A cor da paz (de espírito). Sim, fantasmas são reais. Mia descobre. E Jessica (Chastain) sabe.

RATING: 73/100

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FILMES · RIO

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