Doce País


SWEET COUNTRY é o retrato sociopolítico da Austrália, das velhas feridas aborígenes que jamais cicatrizaram, isso desde a colonização, por toda a sua história, aqui em 1920, de uma antiga história transmitida de geração em geração, no mesmo exemplo que Warwick Thorton fez com SANSÃO E DALILA. Então, um conto sobre o crescimento, de uma época donde os aborígenes não eram escravos, mas trabalhavam de graça, trabalhando por rações, sob uma autoridade imposta. Essa é a herança, a História de um doce país, senão o western que Thorton filma.

Na tela, o conto de um homem aborígine que matou em legitima defesa, foi julgado e inocentado, mesmo assim foi perseguido. Ao seu lado, um jovem de 14 anos, se torna o narrador-observador, a lente pelo qual se conta essa história, o legitimo faroeste com todos os seus elementos – A fronteira, o confisco de terra, a subordinação e conquista de um povo, além das paisagens épicas australianas. O resultado é um legitimo western-outback, inspirado em seu primo spaghetti, em TRÊS HOMENS EM CONFLITO, nUM PUNHADO DE DOLARES, em TRINITY E SEUS COMPANHEIROS, uma saga de anti-heróis e ladrões, conflitos morais e épicos, isso nessa Austrália, em seu próprio contexto, no thriller de perseguição que aborda o racismo, não como um mal sem sentido, mas como a própria realidade sistemática do tempo e da gênese desse povo.

Um filme que se cerca de silêncio, vento e vazios para enfatizar sua história, a de seus personagens e as dificuldades que enfrentam. E assim filmado no mais autêntico, através de olhares, sinais de mão e completamente sem música. Nenhuma pontuação. Nenhuma emoção. Apenas a realidade, filmada do jeito que ela é, nessa época, nesse lugar, em cada cena, da forma como aconteceu. Um belo filme que sob a superfície rufa o confronto, indígenas e não indígenas, atores e não atores, todos se pressionando como placas tectônicas. É o choque de culturas, ideologias e espíritos, uma exploração profunda da violência e do fanatismo no coração de um país. É a essência da Austrália, preto no branco.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Memento Films, incluindo entrevista com o diretor e notas de produção
RATING: 77/100

TRAILER

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REVIEW · SUNDANCE · TIFF · VENEZA · MOSTRA SP

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