Joaquim


Em JOAQUIM, a narrativa não é muito previsível, nem muito clássica, nasce de muitas leituras: Do querer falar de um Brasil colonial, das cidades de ouro, de um século duro, árido, precário, embora próspero, e como essa prosperidade gerou certa fricção social. Fala de um homem de ação, ansioso, inquieto, alguém que se misturava com os marginais, com os pobres, e dali, obteve a fagulha para a revolução. Fala da poética de um período, do cotidiano, dessas pessoas que comiam com as mãos, como animais, que tomavam banho no rio e pegavam piolho na senzala. E também fala dos rituais, os festivais, os populares e toda a musicalidade dos negros e nativos.

E dessa miscigenação de temas e olhares, Marcelo Gomes imagina, não um filme de época, mas uma história de mudança, de luta diante de tantos paradigmas e atitudes, uma peça de resistência à dominação, à injustiça, à desigualdade. E filma algo pulsante, precário e cruel, senão uma crônica do século XVIII e seus engenhos. E com a câmera na mão – no escuro, livre, ativo, imersivo, invadindo cada espaço, sempre atento aos personagens, expondo a precariedade do mundo, daquele mundo, nos conta uma história não oficial de um anti-herói que se transforma em herói. E dali, um western tropical, visceral e romântico, carinhoso e brutal, senão o nascimento de uma nação. Ou, então, o cadinho cultural que o Brasil era na época, através de seus aspectos mais sombrios e menos pesquisados.

Então, na tela, vemos não um relato oficial, nem uma biografia mitológica, mas o chão de terra batida no dia a dia, o curto período de vida de um segundo tenente, seus afetos, os desejos, as contradições e cada valor e falha de caráter. Afinal, a desconstrução de um mito e, depois, a construção de um cinema menos pomposo e sem qualquer tipo de matiz novelística, donde a imaginação flutua por questões intrigantes, a iluminação política, as noções de ética, toda a imundície e precariedade no qual as relações de afeição e poder se misturavam e donde a própria moralidade era um conceito flexível. E não tão diferente de hoje…

(*) Crônica livremente inspirada do material promocional cedido pela Films Boutique, incluso notas de produção e entrevista com o diretor
RATING: 67/100

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FILMES · BERLIM

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