A Garota Desconhecida


Inspire, expire, respire: A história começa ofegante. Ouça: O suspense médico. Escute… está ouvindo? Na tela, uma jovem médica ausculta um velho paciente diante do seu assistente. O diagnóstico é claro. Preciso. Mas depois ninguém ouve ou ignora a campainha. Talvez seja alguma emergência. Poderia ser, mas ninguém atende. Pode ser um erro. No dia seguinte isso se confirma. Era uma emergência. Era urgente. Ninguém ouviu. Agora é tarde. A GAROTA DESCONHECIDA está morta. E é assim que começa um filme-investigação, um policial, também uma denúncia porque, sabemos, a garota é desconhecida, mas a filmografia dos Dardennes não o é.

E aqui, um verdadeiro mistério a serviço dos dilemas e conflitos morais, da (in)consciência ou da (falta de) cidadania que assola essa Europa de hoje. Um grito de socorro que passa despercebido, ignorado, ou então segregado porque não há outra solução. Sem música, sem ornamentos, apenas Adèle Haenel em cena, os Dardennes filmam seu manifesto e sua visão sobre a imigração.

Desse realismo, a formalidade, a extrema obsessão, vemos uma médica em busca de respostas: Quem é essa “garota”? De onde ela veio? Por que estava ali? Qual o seu nome? A protagonista diagnostica o caso minuciosamente entre seu tempo livre e a clínica geral. E é assim pelo sentimento inexplicável da culpa. Unicamente. Ao se redor isso se manifesta e se somatiza em mal-estares, dores abdominais, convulsões. O corpo reage sempre em primeiro lugar. A doutora trata dos seus pacientes e busca as respostas. Ela própria, uma desconhecida. Nada se sabe do seu passado, da sua vida privada. Não importa. Não interessa. O ponto crucial são os pacientes, em diferentes graus, sofrendo os males do mundo, a insegurança, a destruição dos laços sociais e, obviamente, essa garota que se perdeu. A ovelha desgarrada.

Então, a projeção se desdobra na mesa de autopsia. Preciso. Cirúrgico. A câmera focada nessa mulher, impassível, irrepreensível, nos silêncios, nesse diagnostico social, no microscópio que se desenha através dos seus pacientes. A morte ali, na lente. Veja… está vendo? O diagnóstico, no entanto, não é tão preciso.

RATING: 68/100

TRAILER

Article Categories:
FILMES · CANNES · TIFF · MOSTRA SP

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.