A Tartaruga Vermelha


Os mares invadem a tela, a tormenta, as ondas, a fúria nos abraça e nos afoga. Não há como resistir, não há como fugir… E esse é o princípio. Do naufrágio. Da aquarela. Desse LA TORTUE ROUGE: Um homem, uma ilha, nada mais. E tudo desenhado em traços simples, o esboço da natureza para nos embriagar de verde, de chuva, de mar e montanhas. O vento. O nada. Isso em todas as direções solitárias.

Então, a noite cai e com ela as cores se esmaecem, a música e os sonhos surgem para nos acalentar. O homem adormece. Sonha. Quer fugir. Por três vezes tenta. Se resigna. Se enfurece. Nessas idas e vindas surge uma mulher misteriosa. Seria uma sereia? Uma fada? É o amor… não estamos mais só. E desse encontro na areia, no mar azul, os violinos em sinfonia, vemos embriagados a origem do mundo, o Éden, o cinema, os corpos, os cosmos. O ciclo se repete. O tempo passa. Ficamos em êxtase com esse arrebate.

É como se um maremoto surgisse na tela para nos inundar com sua poesia. Estamos só nesse mundo. Tudo é finito. Em lágrimas, o coração apertado, vendo o mar trazer e o mar levar, arrasar tudo e nos arrasar, vemos um homem e um belo filme que Michael Dudok de Wit desenhou. Que Isao Takahata produziu… A natureza em toda a sua magnitude, a água, o fogo, a terra e o ar, ali em película, nesse ciclo inatingível, silencioso, profundo. Dessa comunhão, vemos vida, morte, o invisível. Que saudade desse mar que nos traga em sua maré, desse filme que nos embala em seu colo, dessa relva que nos acolhe. Um conto linear e circular. Que usa o tempo para contar a falta de tempo, que usa a música para melhorar o silêncio. Que nos deixa sem palavras, o próprio homem sem palavras.

RATING: 84/100

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ANIMAMUNDI · FILMES · CANNES

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