Jackie


Uma bala atravessou o pescoço do presidente. Uma bala subsequente, que foi letal, estilhaçou o lado direito de seu crânio… Sua esposa, Jacqueline Kennedy, estava sentada ao seu lado. Próxima a ele. Desse ponto em diante, Pablo Larraín conta a sua história, não a enésima versão do assassinato de John F. Kennedy, mas o que acontece – e somente ao que acontece – à JACKIE: O luto, a dor, o trauma, os longos dias, o desengano dos filhos, os olhos do mundo sobre seus ombros. E nesse processo, quando a rainha perde sua coroa, seu trono, seu rei, tão elegante e sofisticada, aos poucos conhecemos essa mulher, mãe, viúva e primeira dama, uma das mais fotografadas e documentadas do século 20, no cinema, na televisão, e, no entanto, pouco conhecida por seu caráter intensamente privado e inescrutável.

Um filme feito de fragmentos. De fatias de memória. Locais. Ideias. Imagens. Incertezas… O presidente se foi tão jovem. Seu legado poderia facilmente ser esquecido. Jackie sabia. E mesmo cambaleando com a tristeza, ela faz o necessário para terminar essa história, transformar esse homem em uma lenda, consolidar sua politica e seu nome. E ao fazê-lo, construindo tal mito, do marido, dela própria, da família e os Kennedy, logo se tornar um símbolo que antecede o imaginário popular, para sempre, em todo o mundo.

E ao filmar essa personagem, reinventando a biografia, senão um retrato inflexível de uma mulher tanto icônica quanto misteriosa, ruminando sobre a fé, a história, a mitologia e a perda; o cineasta nos entrega, entre a fábula e a realidade, as idas e vindas, as obsessões e associações, essa Natalie Portman surpreendentemente fascinante. A mesma fisionomia, linguagem, postura e entonação, por toda a projeção, funeral, procissão, em Dallas ou em Washington, ali na Casa Branca, diante do jornalista, do público, em seu glamour. Mesmerizante em seu terno de seda. Determinante em seu Chanel. Insolente em seus ideais. O mundo aos seus pés, sob o véu negro, o tecido leve, uma grande atriz em seu ofício. Simplesmente Jackie. Nada mais.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Wild Bunch, incluindo as notas de produção
RATING: 83/100

TRAILER

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FILMES · TIFF · VENEZA

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