Belos Sonhos


FAI BEI SOGNI, o livro de Massimo Gramellini, o filme de Marco Bellocchio, nos faz sonhar… A história de um garoto que perde sua mãe e cujo trauma perdura por toda a sua vida, até a dissolução final. Isso repleto de sentimentalismo e retórica, ao “modus operandis” das grandes novelas ou filmes “coming age”, nada parecido com os recentes SANGUE DO MEU SANGUE e A BELA QUE DORME, um conto mais acessível, mais simples, nada extraordinário ou rebuscado e nenhum pecado nisso.

Desse conto donde a mãe foi visitar os anjos, Bellocchio escreve um longo flashback, a infância, a adolescência, a profissão de jornalista e o vazio lamentado. Basicamente a vida do autor, um tanto mais romanceado para criar poesia. Um filme que abre nas ondas do rádio, no iê-Iê-Iê dos anos 60, no rock´n´roll para nos embalar e depois bailar na nostalgia. Ali, na tela, vemos o filho e sua mãe, uma cena, o vínculo. Depois o beijo de boa noite, fai bei sogni bambino, bons sonhos e adeus.

O modo como a noticia é dada para a criança, basicamente uma mentira que perdura por todo o filme é outro debate que não cabe aqui porque entra no campo da pedagogia, da filosofia, mesmo da fé. Fato é que o menino nunca aceitou essa perda, mentia na escola, buscava outros colos e aconchegos. A projeção prossegue, o menino cresce, trocam-se os atores, o disco gira, ao fundo se ouve Belfagor, de Ottorino Respighi, ou então o “anjo caído” que vela pelo menino. O amor pelo futebol, o cronismo esportivo, uma carta reposta ou a cobertura em Saravejo. O órfão cresce, o trauma permanece. Um melodrama, basicamente. Mas de Bellocchio, de seus virtuosismos, pela viagem pelo inconsciente, pelo onírico, pela casa vazia, a claustrofobia familiar, vale o ingresso. Certamente belos sonhos.

RATING: 68/100

TRAILER

Article Categories:
FILMES · CANNES · TIFF · MOSTRA SP

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.