A Canção do Pôr do Sol


Em princípio, A CANÇÃO DO PÔR DO SOL se ouve, se vê, por cada pasto verdejante, em cada ovelha balindo, pela aurora que nos banha, nas lamurias, nas alegrias, na Escócia, na Inglaterra, na vida que transita pelo campo, ano após ano, nas colheitas, nos currais, as pessoas tão tristes e distantes, em pouco festejo e descontração, apenas o suficiente para cantar e soluçar e novamente trabalhar. Um filme tecido em velhas histórias, ao redor da fogueira ou da mesa, em torno dessa jovem, nem menina, nem mulher, talvez uma sonhadora que, pouco a pouco, se esvai, amadurece, cresce diante de nossos olhos, enquanto sua família, a mãe, o pai, os irmãos, seus amores, vão partindo no crepúsculo, sem adeus.

E com eles, por esse cinema, ouvimos cantar, muito tênue, as VOZES DISTANTES, as MEMÓRIAS antigas, A ESSÊNCIA DA PAIXÃO de um cineasta que insiste nos rudimentos de uma narrativa que se foi, se perdeu, afinal O VENTO LEVOU, para longe, para o passado. Um conto de minucias e sentimentos, um poema escrito em película, nos enquadramentos, na trilha que nos arrebata, ou na luz que permeia o ambiente de significados, evocações e reminiscências.

Terence Davies nos acaricia em cada frame, filmando no mais clássico dos clássicos, numa abordagem plana, sem muitos riscos ou melodrama, essa história e o rosto de Agyness Deyn, ambos imutáveis. O espirito da heroína tão cru e adorável, claro e verdadeiro. E, depois, com a projeção e sua mãe, algo morrendo, talvez a infância, os livros ou os sonhos para algo mais sombrio e silencioso tomar-lhe conta, talvez seu pai, um rancoroso Peter Mullan, talvez o medo, ou então as saudades. Do nada, um casamento que de repente chega e logo se esquece. E de tanto amor e lágrimas derramadas, nem sequer uma onda resta nessa inundação. Logo se apaga a luz, a guerra eclode e lá se vai a felicidade, o despertar de um sonho, a quietude da tarde. Tudo fica na lembrança. A última cena, um último olhar… Amanhã é outro dia. Novas manhãs chegarão. Meios-dias com seu sol. As chuvas virão, macias, cinzentas e silenciosas singrando as terras. E a terra permanece. E, nesse momento, nessa cena ou olhar, nos sentimos como a terra – você, eu, Chris – nesse crepúsculo. Nessa canção.

RATING: 66/100

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REVIEW · TIFF · SAN SEBASTIAN · RIO

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