Caça-Fantasmas

O evento, o merchandising, a polêmica em torno das CAÇA-FANTASMAS, se tornaram maior que o filme. Goste ou não, seja homem ou não, reprová-lo ou não, tudo se resume a levantar ou rejeitar a bandeira feminista. E é nessa logica digital – zero ou um – que norteia toda a discussão, todos os reviews, as redes sociais, não o filme em si, nem a ousadia por conta do casting de Paul Feig, ao fato de reverter o protagonismo dos filmes da década de 80 às mulheres nesse novo reboot, ao escalar Melissa McCarthy, com quem o diretor trabalhou diversas vezes, em MISSÃO MADRINHA DE CASAMENTO, A ESPIÃ QUE SABIA DE MENOS e BEM ARMADAS e (porque não?) nessa nova fase da franquia. Nem a química, o timing, as diversas sacadas desse novo grupo (leem-se possibilidades). Tudo se perde nos rótulos, no mau humor e nos preconceitos. Infelizmente.

O filme é, sim, um manifesto feminista. Talvez não fosse durante a pré-produção, nos esboço do roteiro, talvez nem fosse essa a intenção, mas diante do turbilhão, das críticas, acabou sendo e se alimentando desse fato. “Vadia nenhuma vai caçar fantasma”, se revolta a personagem de McCarthy durante a projeção, ao ler um comentário na internet. É, senão, uma alfinetada ao público. A todos os comentários sexistas. Aos homens. Aceitem. O filme está pronto. Elas são CAÇA FANTASMAS e haverá continuações. Nada pode ser feito.

Então, nesse novo mundo (novos tempos), vemos na tela, três astrofísicas quânticas extremamente capazes, mas segregadas pelos homens: A primeira é Kristen Wiig, uma professora renomada da Universidade de Columbia, mas extremamente dominada em seu comportamento, sua postura e modo de vestir pela personificação do machismo, o personagem de Charles Dance (que, aliás, se repete como o patriarca Lannister da “Guerra dos Tronos”). Depois, surge Melissa McCarthy tão competente quanto, mais dominada por outro palerma que mal sabe soletrar seu nome. A terceira é Kate McKinnon, sim, uma coadjuvante, mas também o espelho do Dr. Egon Spengler nessa nova trama. Juntas, elas se reúnem para documentar evidências fantasmagóricas, curiosamente um espectro feminino que se revolta contra os homens e, sim, ELA É O DIABO.

A quarta integrante é Leslie Jones. Ela surge na metade da projeção, proveniente do subúrbio e do submundo, em um subemprego no metrô, pelo qual ninguém liga ou se importa. Ela é mulher. Também negra. Não é professora, não tem diploma, mas “conhece o mundo”. Dentro dessa pirâmide social é um estereótipo, um alívio cômico. No filme, uma caricatura. Seus gestos, seu linguajar, sua entonação logo nos remete às antigas comedias de Whoopi Goldberg, confesso que vagamente me lembrou do humor que Mussum fazia nos trapalhões, o que não é tão grave, visto as origens e o gênero desse titulo, mas nas entrelinhas, lá no fundo, é outra alfinetada: “Num mundo governado pelos homens, se é ruim ser mulher, pior é ser negra”.

Formado o grupo, logo aparecem as (deliciosas) referencias: O prédio original do primeiro filme é muito caro para se alugar. A solução é o segundo andar de um restaurante de comida chinesa (Seria outra alfinetada? “Num mundo governado pelos homens, se é ruim ser mulher ou negra, pior é ser emigrante num país xenófobo, cujo governo tende a se tornar de ultradireita?” O “jovem que entrega sopa” que o diga…). Logo surge o novo “Ecto 1” e também o personagem que substitui Rick Moranis, aliás, mais divertido em sua persona de “loiro burro”. Chris Hemsworth acaba se tornando o melhor do filme (e mesmo diante de tantos cameos inteligentes).

O problema dessa versão, como outrora os filmes de 1984 e 1989, é o roteiro extremamente planificado. O tal vilão surge do nada e para o nada vai. Com ele, um apetrecho “deus ex-machina” para justificar os fantasmas do argumento, os vários “Xs” aleatórios no mapa para traçar um grande finale. Enquanto comédia é aceitável, divertida até, mas tratá-lo como grande panfleto feminista, destruidor de infâncias ou instrumento de boicote, sinceramente? Isso só alimenta a propaganda e curiosidade. Goste ou não.

RATING: 65/100

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FILMES

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