O Tesouro


Um conto de fada, um conto de realidade, senão o “verdadeiro” tesouro que Corneliu Porumboiu nos propõe, lá em Bucareste, a fábula de um garoto, seu pai, um vizinho e “Robin Hood”, todos atrás dessa promessa, enterrada e escondida, plausível e inacessível. Um filme leve, extremamente informal, que se enterra na aventura, literalmente pelo passado, no jardim, na casa do bisavô e suas promessas mirabolantes.

Então, era uma vez, uma casa esquecida, outrora farmácia, estábulo, escola, até num bar de strip-tease. Antigo lar de judeus e oficiais alemães, mas hoje em ruinas, e cujo próprio tesouro é essa historia que nos conta, na superfície, o mundo como ele é, mas atrás das aparências, encravado nas profundezas, uma parábola de vários níveis, terreno ideal para uma encantadora ficção. Afinal, o conto de heróis que cavam para se livrar do abismo, de um lado, o vizinho, cuja urgência é encontrar esse dinheiro para não perder sua casa e seu legado. Do outro, esse pai, maravilhado pela riqueza e as historias de Quixote. Ou talvez, a aventura pela Romênia e suas regras, além da POLICIA, ADJETIVO; Das clausulas e ditados; De João Pequeno e Frei Tuck.

E ambos no jardim, nesse imenso buraco. Em longos planos, a câmera desliza como Fauno, ao longe, ao redor, nos desorientando e também aos personagens por esse estranho labirinto. O método, a empreitada em si, tudo confunde, embaraça, atrapalha. O detector de metais que nada detecta além de ruídos estranhos. O perito que nada (ou pouco) entende. É aqui? É ali? Vamos em frente e a projeção avança noite adentro, em torno da árvore, do mato. Três personagens à procura de algo no chão: Eis o desespero e, portanto, a comedia da ganancia. E com eles, nesse poço sem fundo, o público também ansioso, cheio de expectativa, pá de terra, atrás de pá de terra, sempre esperando, cavando… Existe um tesouro? O que está enterrado?

E depois, caso encontrado, a quem pertence? E de novo um tema recorrente do cineasta, a noção de direito e dialética, a propriedade em si, o faroeste que se desenha na arbitrariedade das regras, no argumento incessante do domínio, da terra, dos seres, dos objetos… Não à toa a metáfora de Robin Hood para resumir esse dilema: O que é encontrado ou não no jardim. O que é transmitido aos filhos. O que lhe pertence ou não, roubo ou não… É, enfim, a herança do absurdo. A surpresa. O inesperado. Um imenso playground para nos entreter e divertir.

RATING: 76/100

TRAILER

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FILMES · CANNES · TIFF · SAN SEBASTIAN

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