Zootopia

Do dicionário, uma fábula emula um conto curto, escrito em prosa ou em verso, no qual animais se apresentam com características antropomórficas, vivenciando o cotidiano humano, sempre diante de questões morais e cujo ensinamento primordial é conhecido ao final da narrativa. A fábula tal como é conhecida, veio do Oriente, de tempos assírios e babilônicos, se popularizou com Esopo, depois com Jean de La Fontaine, por fim com a Cigarra e a Formiga, a Tartaruga e a Lebre, O Lobo e o Cordeiro, O vento norte e o sol…

Nos anos 30, foram orquestradas em Silly Symphonies, os primórdios de Walt Disney, tal como é conhecido por seu legado. Depois veio BAMBI, idos anos 40, tudo muito simples, exceto por um tiro e um incêndio. A vida prossegue. O tempo passa. Outras fábulas viriam, A DAMA E O VAGABUNDO (anos 50), BERNADO E BIANCA (anos 70), O CÃO E A RAPOSA (anos 80)… Eram “silly movies”, filmes medianos, fábulas corretinhas para criança consumir nesse “estilo Disney” planificado no fusca que fala; na cama que voa; senão a essência clichê de um estúdio aprisionado em seu próprio fim. Nos anos 90, depois de longa crise, o estúdio (rei) acordou, rugiu, nos impressionou com Simba e Mufasa. Hakuma Matata. Virou o século. Outros tempos, outra geração… Não havia espaço (mercado) para Silly Symphonies, somente esse futuro, TOMORROWLAND… Ledo engano.

Porque ZOOTOPIA, como a sinopse diz, é uma cidade diferente de tudo o que você já viu: Numa leitura ingênua, diria “silly”, é outra fábula, a história da Raposa e a coelha (sim, coelha, no feminino) nessa selva de pedra incrivelmente contemporânea, diante dos dilemas da vida, de um mistério noir, de algum ensinamento. Mas nas entrelinhas, dentro dessa cidade utópica, dita pacifica e harmoniosa, dentro dos muros de cada gueto que separa cada habitat, convive certo preconceito, senão a antropomorfia do racismo, da corrupção, da homofobia ou politica. Isso visto didaticamente em “silly” esquetes: A sorveteria do elefante, o primeiro dia dos escoteiros, a cota das ovelhas, o bullying constante na delegacia, no fórum, em cada bairro-gueto, cada cena nos confrontando em nossos pré-conceitos, de certa forma criando (interessantes) reviravoltas, pois cada animal, seja de direita ou de esquerda, leão ou ovelha, predador ou mamífero, segue seus próprios instintos. E com eles, seguimos os nossos. E isso é terrivelmente ardiloso. Senão humano. O confronto entre a raposa e a coelha, logo depois da coletiva de imprensa é terrivelmente feroz, diz tudo, escancara nossos receios e, sim, grita para qualquer um que, talvez, esse não seja um simples desenho disney de animais falantes mas, sim, a vida real, um soco no estomago ou o touro que nos grita incessantemente: “Looser, looser, looser”.

No final, a sinopse parece estar errada: Zootopia não é diferente de tudo o que você já viu. É igual. Terrivelmente igual. Basta sair do cinema e constatar por si próprio. E esse é o golpe de mestre.

RATING: 74/100

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ANIMAMUNDI · FILMES

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