Sicário


Na claustrofobia da primeira cena, no rebombar dos primeiros tambores, desse tanque que atropela a tela para nos aturdir com tamanho impacto, acima dos mortos, dos tiros, do caos. Isso na fronteira do nada, da intriga, da corrupção, de uma terra sem lei, dONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ e, portanto, sempre em guerra, eis o filme que Denis Villeneuve nos propõe: Um faroeste febril, intenso, extremamente imprevisível, talvez não pela ação em si, a batalha entre policia e cartel, mas pelo suspense com o qual se desenha a milícia no submundo, nas sufocantes reviravoltas, o roteiro tortuoso, a moral depravada, A HORA MAIS ESCURA, a respiração mais intensa, o coração mais cruel… Daqui, dessa projeção, não há qualquer escapatória, nem salvação. A mira está no peito e o caçador é feroz.

Um filme urgente, cheio de escolhas e subtextos costurados na zona proibida entre os Estados Unidos, México e suas eternas questões – as drogas, o terrorismo, a imigração ilegal – e daí a escalada do crime nesse enorme tabuleiro, na (des)inteligência do jogo obscuro de gato e rato, nas operações táticas de combate ao tráfico, nas regras que norteiam o conflito e com o qual a América lida “estoicamente”, o idealismo versus realismo, os valores versus segurança, o mundo a nos emparedar vivo, literalmente.

Dessa selvageria, donde os lucros sempre superam a decência humana, é que Emily Blunt, outrora um emblema de coragem e justiça, se envolve na guerra solitária. E ali, cada vez mais vulnerável, resistente como ela é, dedicada como ela é, entre o bem, o mal e agentes que operam como cartéis, vai se dilacerar no dilema de fazer a coisa certa, a coisa humana. E é exatamente o que trará seu fim. Eis “Sicário”.

E é nesse chiaroscuro que Villeneuve filma. E o faz de forma elegante, no íntimo, no mais profundo dos tormentos. Seu olhar retrata a escuridão de cada personagem, filmando-os em tons de cinza, sem qualquer consciência do que é certo ou errado. Filma, em parte, os fantasmas, o velho sonho de uma América capaz de resolver o mais violento dos problemas de uma forma muito eficiente e invisível. E talvez seja um pensamento reconfortante se o mundo não fosse tão complicado. Um cinema que evoca algo sobrenatural, esses tais super-heróis armados de rifle e fuzis. Heróis em contato com escolhas difíceis, mas que devem ser feitas quando confrontadas com o “mal”. Até que ponto se deve ir para deter os cartéis? Podemos parar os cartéis sem se tornar um deles? Eis o dilema. O fascínio. A CIDADE DE DEUS que cresce vertiginosamente e nos deixa sem respostas, atônitos e emudecidos.

RATING: 65/100

TRAILER

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FILMES · CANNES · TIFF · SAN SEBASTIAN · RIO

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