The Sea of Trees

Na tela, o rosto de Matthew McConaughey em imenso close up atrás do volante de um carro qualquer. Ele desliga o veiculo, deixa a chave no contato, o abandona no estacionamento. Está num aeroporto. Uma atendente lhe vende uma passagem para o Japão. Apenas ida. Nenhuma bagagem. No avião, o rosto melancólico, sereno. Nada deseja comer. Ao desembarcar, pega um taxi rumo à floresta, o monte Fuji ao fundo. Esse estranho bosque que medita ao sabor do vento, colossal, misterioso, como uma fábula de Chihiro ou um conto de Tio Boonmee.

Ainda na estrada, diante dessa floresta, alguns carros abandonados, todos com a chave no contato. O tempo lhes carcomendo com ferrugem e descaso. Ele adentra pela floresta, pelo caminho sinuoso, as memórias ancestrais, os avisos de reflexão em nome dos pais, da família, do passado. E cada vez mais em seu interior, ainda andando, ele encontra alguns objetos, uma foto, um sapato, uma mulher fria. Por fim, escolhe um lugar, seu santuário. Ao seu lado, coloca delicadamente um envelope, uma garrafa de agua mineral, um frasco de comprimidos.

Que comece o sacrifício! Uma pílula azul, um gole, um fantasma… Aqui começa e termina o filme de Gus Van Sant. Os primeiros 20 minutos são geniais, tensos, cheios de suspense e mistério. Depois, o roteiro desaba no clichê, nos monólogos intermináveis e numa (pretensa) poesia. Gus Van Sant se perde na floresta, no vazio, na falta de argumento e com ele, seus atores, seus personagens. De um filme que poderia ser algo primoroso, algo de Naomi Kawase ou Apichatpong Weerasethakul, se torna um seriado de redenção, uma fábula de João e Maria, outro LIVRE. E, sim, infelizmente num filme (bem) chato de incansáveis e incontáveis finais. Perdi a conta de quantos. Dormi num deles.

RATING: 61/100

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REVIEW · CANNES

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