Ranking | Ingmar Bergman


Ao promover mais um ranking, a Liga dos Blogues Cinematográficos destaca, desta vez, um dos mais significativos realizadores de todos os tempos: o sueco Ingmar Bergman. Sobre ser um dos mais profundos analistas da condição humana, Ingmar Bergman, porém, a partir de sua maturidade como artista, também reflete acerca da natureza do próprio cinema (como se verifica em PERSONA, entre outros).

Na vastidão de sua filmografia, percebe-se um cinema culto, refinado, que, além de prolongar a tradição cultural de seu país, enraíza, neste, as lições do expressionismo alemão, do surrealismo e do existencialismo sartriano. Em cada filme em particular, unem-se a problemática moral e a incomunicabilidade dos seres, a solidão do homem num mundo em que o silêncio de Deus é uma constante.

Se a obra-prima de um cineasta é aquela considerada a sua melhor, Bergman rasga o conceito de obra-prima, considerando-se que as tem várias: NOITES DE CIRCO (GYCKLARNAS AFTON, 1953), O SÉTIMO SELO (DET SJUNDE INSEGLET, 1957), MORANGOS SILVESTRES (SMULTRONSTÄLLET, 1957), O SILÊNCIO (TYSTNADEN, 1963), PERSONA (1966), GRITOS E SUSSURROS (VISKNINGAR OCH ROP, 1972), SONATA DE OUTONO (HÖSTSONATEN,1979), FANNY & ALEXANDER (FANNY OCH ALEXANDER, 1982).

O cinema, para Bergman, é um conduto através do qual expõe seu pensamento e suas aflições, um meio, portanto, e não um fim em si mesmo. Investigador intelectual tanto como criador plástico, Bergman é um autêntico autor de filmes, um dos mais importantes de toda a história do cinema.

André Setaro




O ano era 1968 e o mundo estava mudando. A guerra era uma fantasma possível, mas que Ingmar Bergman queria confinar num lugar sem nome, num tempo indefinido. VERGONHA é uma fantasia de horror, uma reflexão sobre a monstruosidade do conflito. Um filme peculiar na obra do diretor, acostumado a devassar os bastidores de casais e famílias. Aqui, existe o casal, existe a crise, mas existe um contexto opressivo que coloca os personagens em situações-limite. Um dos pesadelos mais reais filmados por Bergman.

Chico Fireman




Eu queria fazer uma sinistra e brutal balada medieval sob a forma simples de uma canção folclórica. Mas ao conversar sobre tudo isso com a autora, Ulla Isaksson, eu comecei a psicologizar. Esse foi o primeiro erro, a introdução de uma ideia terapêutica: Que a construção da igreja poderia curar aquelas pessoas. Obviamente era terapêutico, mas artisticamente foi totalmente desinteressante. (…) É um bom exemplo de como motivações pessoais podem se enrolar, e como limitações e fraquezas não são sempre claras – deficiências intelectuais e incapacidade de ver através da própria motivação podem transformar um trabalho que se desenvolve

Ingmar Bergman




Ponto de partida da chamada Trilogia do Silêncio (seguido depois por LUZ DE INVERNO e O SILÊNCIO), ATRAVÉS DE UM ESPELHO parece ser das obras-primas de Ingmar Bergman a menos festejada. Num filme em que a representação de Deus é uma aranha monstruosa, vista pela personagem de Harriet Andersson tomada de esquizofrenia, tem-se aí mais uma vez a crença religiosa como esperança infrutífera de salvação, tema tão caro ao cineasta sueco. É o silêncio de Deus, mas há também o silêncio entre o pai distante e o filho mais jovem e carente de atenção, o desgaste de um casamento fadado à dor, apesar da paixão que ainda resiste ali, representada principalmente pela expressão cansada, mas de doação total de Max von Sydow, e o tempo a corroer tudo isso. Eis aqui mais um estudo psicológico de uma família marcada pelo distanciamento, seja por culpa da doença, seja pela impossibilidade humana de enfrentar seus medos. Mas o que seria a afirmação do pessimismo total, ganha uma centelha rara de esperança na última cena, quando o pai fala abertamente com o filho sobre o amor terreno, sendo esse o verdadeiro amor. Taí um bom começo: fale com ele.

Rafael Carvalho




Eu levei dois meses e meio para escrever essas cenas; E toda uma vida adulta para vivê-las. (…) CENAS DE UM CASAMENTO é sobre a agressividade e como lidar com ela. Johan e Marianne ficam surpresos quando sentimentos reais começam a transbordar. Mas assim que se permitem ter raiva e reagir, aprendem algo sobre si mesmos e sobre o outro. Na época, a série levantou fortes discussões sobre o casamento. A audiência do programa aumentava à medida que a agressividade dos personagens aumentava. Ver o casal na televisão despertou algo em vários espectadores que os afetou por muito tempo, para o melhor e para o pior.

Ingmar Bergma




Obra de grande impacto, pela capacidade de seu autor saber, como poucos realizadores cinematográficos, mergulhar na alma humana e dela extrair as idiossincrasias da condição humana, este filme de raro fascínio tem, na sua estrutura narrativa, um andamento de sonata. Obra que marca, também, o encontro de dois bergmans conterrâneos, que, aqui, trabalham juntos pela primeira vez: Ingmar e Ingrid. Este concerto de câmara não seria o que é se não tivesse, fortalecendo-o do ponto de vista dramatúrgico, duas atrizes excepcionais: Ingrid Bergman e Liv Ullman. Esta faz a filha da outra, concertista festejada, orgulhosa, e que procura disfarçar a emoção através de gestos medidos, que, ficando viúva, decide visitá-la após sete anos sem vê-la. O encontro das duas provoca toda a carga dramática da obra. A fotografia é de um artista: Sven Nykvist.

André Setaro




Refletir sobre a morte é próprio do homem desde o início de sua história. Bergman, em O SÉTIMO SELO, utiliza a figura da Morte personificada (Bengt Ekerot) para falar, na verdade, sobre a vida, representada pelo desesperançoso cavaleiro medieval (Max von Sydow). Desde o icônico jogo de xadrez à ainda mais emblemática “Dança da Morte”, o filme, situado num dos períodos mais sombrios da história da humanidade, questiona a indiferença do homem para com o mundo e, mais que isso, como a sua relação com a fé e seu Deus silencioso determina essa situação. Um dos filmes responsáveis por dar a Bergman reconhecimento além da Europa à época de seu lançamento, sendo vastamente homenageado, imitado e parodiado ao longo dos anos, O SÉTIMO SELO é, em última instância, uma alegoria fantástica do papel vital da arte para o ser humano.

Renato Silveira




Inicialmente série feita para a televisão sueca, FANNY & ALEXANDER sofreu montagem condensadora para a variante cinematográfica. A versão que assisti foi a televisiva, ou seja, mais longa, aquela pela qual seu diretor, o genial Ingmar Bergman, dizia-se plenamente responsável. Dividida em cinco partes, e acumulando mais de trezentos minutos de duração, FANNY & ALEXANDER é das maiores e mais autobiográficas obras do sueco. A trama gira em torno de uma grande família chefiada pela matriarca, outrora a mais famosa atriz da Suécia. É Natal, e ela resolve chamar as famílias de seus três filhos para as festas em seu casarão. O protagonista Alexander é, ao mesmo tempo, a memória pueril do cineasta, pois investiga relações familiares que o próprio teve, e nossa porta de entrada num universo que busca no imaginário e na aparição dos mortos, o alento para uma realidade desencorajadora.

Marcelo Müller




Escrevi uma história sobre quatro mulheres que se encontram, durante alguns dias, em dramáticas circunstâncias. E chamei, então, para vivê-las, quatro magníficas, maravilhosas atrizes que são, também, amigas muito queridas: Harriet Anderson, Ingrid Thulin, Kari Sylwan e Liv Ullmann. (…) Se me perguntarem se é um bom ou mau filme, terei de responder que não sei. Tudo que sei é que se trata de um filme muito chegado ao meu coração. Eis por que peço que o vejam. Quero muito que também gostem desta obra.

Ingmar Bergman




Eu criara um personagem que se assemelhava a meu pai, mas que no fundo era eu, inteiramente. Eu, com trinta e sete anos, privado de relações humanas, com necessidade de me impor, introvertido, e não apenas relativamente, mas sim bastante fracassado. Apesar dos sucessos, de
ser bom profissional, cumpridor e disciplinado

Ingmar Bergman




Não considero compreender a alma feminina, sempre me pareceu inexplicável, rica, e, um tanto, mágica. Mas, assistindo a vários dos filmes de Ingmar Bergman tenho essa sensação de me aproximar um pouco, ao menos, de um princípio de entendimento. Se isso for realmente verídico, PERSONA deve ser o filme, com maior capacidade, de exprimir parte desse enigma. O jogo entre estas duas mulheres (aparentemente de vidas tão distantes), mergulha num grau de profundidade onde intimidade e sexualidade parecem desnudadas completamente. Liv Ullmann carregando a tristeza, o isolamento, enquanto Bibi Andersson a excentricidade da juventude, a ingenuidade impulsiva. A proximidade metafórica na cena do espelho, indo além do que conhecemos como diálogos, Bergman apresenta o que ouso chamar do diálogo das almas, onde religiosidade e fé, tensão sexual, decepção e mágoa, são elementos poderosos utilizados por Bergman para extrapolar os limites da sensibilidade e do sensorial. Persona é para sentir, e não apenas assistir.

Michel Simões


Ranking de Ingmar Bergman

1 . PERSONA | Ingmar Bergman – 9,32
2 . MORANGOS SILVESTRES | Ingmar Bergman – 9,26
3 . GRITOS E SUSSURROS | Ingmar Bergman – 9,25
4 . FANNY & ALEXANDER | Ingmar Bergman – 8,80
5 . O SÉTIMO SELO | Ingmar Bergman – 8,75
6 . SONATA DE OUTONO | Ingmar Bergman – 8,73
7 . CENAS DE UM CASAMENTO | Ingmar Bergman – 8,63
8 . ATRAVÉS DE UM ESPELHO | Ingmar Bergman – 8,33
9 . A FONTE DA DONZELA | Ingmar Bergman – 8,25
10 . VERGONHA | Ingmar Bergman – 8,19
11 . JUVENTUDE | Ingmar Bergman – 8,07
12 . O SILÊNCIO | Ingmar Bergman – 8,00
13 . A PAIXÃO DE ANA | Ingmar Bergman – 8,00
14 . LUZ DE INVERNO | Ingmar Bergman – 7,86
15 . MONIKA E O DESEJO | Ingmar Bergman – 7,82
16 . NOITES DE CIRCO | Ingmar Bergman – 7,79
17 . SARABAND | Ingmar Bergman – 7,75
18 . O ROSTO | Ingmar Bergman – 7,42
19 . A HORA DO LOBO | Ingmar Bergman – 7,35
20 . A FLAUTA MÁGICA | Ingmar Bergman – 7,33
21 . DA VIDA DAS MARIONETES | Ingmar Bergman – 7,19
22 . O OVO DA SERPENTE | Ingmar Bergman – 7,18
*** . CRISE | Ingmar Bergman – 7,00
*** . QUANDO AS MULHERES ESPERAM | Ingmar Bergman – 7,75
*** . UMA LIÇÃO DE AMOR | Ingmar Bergman – 6,88
*** . SONHOS DE MULHERES | Ingmar Bergman – 7,38
*** . PRISÃO | Ingmar Bergman – 7,67
*** . SEDE DE PAIXÕES | Ingmar Bergman – 6,83
*** . SORRISOS DE UMA NOITE DE AMOR | Ingmar Bergman – 8,17
*** . NO LIMIAR DA VIDA | Ingmar Bergman – 7,00
*** . PARA NÃO FALAR DE TODAS ESSAS MULHERES | Ingmar Bergman – 5,33
*** . A HORA DO AMOR | Ingmar Bergman – 6,67
*** . FACE A FACE | Ingmar Bergman – 7,67
*** . DEPOIS DO ENSAIO | Ingmar Bergman – 7,33
*** . PORTO | Ingmar Bergman – 7,00
*** . O OLHO DO DIABO | Ingmar Bergman – 7,25
*** . MÚSICA NA NOITE | Ingmar Bergman – 7,00
*** . O RITO | Ingmar Bergman – 7,50
*** . CHOVE SOBRE NOSSO AMOR | Ingmar Bergman – Sem Nota
*** . UM BARCO PARA A ÍNDIA | Ingmar Bergman – Sem Nota
*** . RUMO À FELICIDADE | Ingmar Bergman – Sem Nota
*** . ISTO NÃO ACONTECERIA AQUI | Ingmar Bergman – Sem Nota
*** . NA PRESENÇA DE UM PALHAÇO | Ingmar Bergman – Sem Nota

Certa vez disse a Ingmar que ele era “um gênio”, enquanto que eu era simplesmente “um talento”. A reação dele foi uma metáfora musical que nunca esqueci: “Você é meu Stradivarius”. Foi o mais belo que alguém me disse.

Liv Ulmann


Ranking Geral (2006~2012)

1 . UM CORPO QUE CAI | Alfred Hitchcock – 9,69
2 . A PALAVRA | Carl Theodor Dreyer – 9,67
3 . JANELA INDISCRETA | Alfred Hitchcock – 9,65
4 . PSICOSE | Alfred Hitchcock – 9,55
5 . O PODEROSO CHEFÃO II | Francis Ford Coppola – 9,44
6 . O PODEROSO CHEFÃO | Francis Ford Coppola – 9,35
7 . PERSONA | Ingmar Bergman – 9,32
8 . MORANGOS SILVESTRES | Ingmar Bergman – 9,26
9 . GRITOS E SUSSURROS | Ingmar Bergman – 9,25
10 . OS IMPERDOÁVEIS | Clint Eastwood – 9,20
11 . OS PÁSSAROS | Alfred Hitchcock – 9,16
12 . O LEOPARDO | Luschino Visconti – 9,13
13 . TAXI DRIVER | Martin Scorsese – 9,08
14 . PULP FICTION | Quentin Tarantino – 9,04
15 . COMO ERA VERDE O MEU VALE | John Ford – 9,00
16 . TOY STORY 2 | John Lasseter – 9,00
17 . APARAJITO | Satyajit Ray – 9,00
18 . APOCALIPSE NOW | Francis Ford Coppola – 8,98
19 . VIRIDIANA | Luis Bunuel – 8,96
20 . A INFÂNCIA DE IVAN | Andrey Tarkovskiy – 8,94
21 . INTERLÚDIO | Alfred Hitchcock – 8,93
22 . RASHOMON | Akira Kurosawa – 8,91
23 . CASABLANCA | Michael Curtiz – 8,87
24 . AMANTES | James Gray – 8,86
25 . GRAN TORINO | Clint Eastwood – 8,86
26 . AMANTES CONSTANTES | Philippe Garrel – 8,85
27 . LAWRENCE DA ARÁBIA | David Lean – 8,84
28 . CÓPIA FIEL | Abbas Kiarostami – 8,83
29 . ELEFANTE | Gus Van Sant – 8,80
30 . FANNY & ALEXANDER | Ingmar Bergman – 8,80

Article Tags:
Article Categories:
RANKINGS

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.