O Grande Truque do Oscar 2009


Brilho. Luzes. Cor. Nostalgia. Música… O Oscar 2009 voltou-se ao passado para resgatar o glamour dos anos 30. Fez bem: Todo o esplendor, a intimidade e o swing do Cocconut Groove transformaram a noite da 81ª Edição do Academy Awards numa noite mágica e inesquecível.

O Oscar se renovou, ousou, cantou e dançou. Sem dúvida, foi uma das melhores cerimônias de todos os tempos. Mérito da direção de arte do arquiteto David Rockwell, inspirada nos projetos de Michelangelo da Piaza de Campidoglio. Mérito da estilosa melodia de Michael Giancchino num delicioso flerte com o jazz e, principalmente pelo desenho de produção de Bill Condon: Seu Oscar seguiu um roteiro, contou uma estória – Fez história, afinal.

Hugh Jackman surpreendeu também. E como surpreendeu! Inspirado pelo filme de Michel Gondry, REBOBINE POR FAVOR, fez um “big production number”, em cenário improvisado, suecado pelos tempos de crise, num dueto com Anne Hathaway. Foi ovacionado.

Então se seguem os Prêmios e segue-se o encanto. Todo passe de mágica se divide em três partes: “A Promessa”, quando o mágico mostra um objeto aparentemente comum (um clipe corriqueiro em tela IMAX com vencedores do Oscar, por exemplo); “A Virada”, quando o mágico transforma o objeto comum em algo incomum (A tela se divide em cinco partes, e anuncia cinco vencedores, no áudio original da época do Oscar. A imagem se congela em tons de magenta formando cinco grandes painéis) e, por fim, “o grande truque”, quando ocorre uma surpresa para a platéia (Os painéis são erguidos e revelam cinco padrinhos, um para cada indicado ao Oscar de Interpretação).


A idéia é terrivelmente simples, mas o efeito é extraordinário. Todos os 20 padrinhos foram aplaudidos de pé: Eva Marie Saint, Whoopi Goldberg, Tilda Swinton, Anjelica Huston e Goldie Hawn para Atriz Coadjuvante; Christopher Walken, Joel Grey, Kevin Kline, Cuba Gooding Jr. e Alan Arkin para Ator Coadjuvante; Sophia Loren, Shirley MacLaine, Halle Berry, Nicole Kidman e Marion Cotillard para Atriz; Robert De Niro, Ben Kingsley, Anthony Hopkins, Michael Douglas e Adrien Brody para Ator.

Cada padrinho falou diretamente ao seu indicado. Muitos se emocionaram, Muitos me emocionaram. Foi um momento de orgulho, de reconhecimento e foi plenamente legítimo. Foi autentico. Foi lindo.

Penélope Cruz levou o primeiro prêmio da noite e o Oscar falou espanhol… Falou japonês (Melhor Curta de Animação, Melhor Filme Estrangeiro)… Falou alemão (Melhor Curta-Metragem)… Falou hindi (Todos os Prêmios Técnicos de SLUMDOG MILLIONAIRE mais Curta-Documental)… Teve sotaque bretão (Kate Winslet, Danny Boyle). Por fim, falou nada… Houve um silêncio esquisito para acolher o Oscar Póstumo de Heath Ledger.

O Oscar, enfim, começa numa página em branco: “Interior. Teatro Kodak. Noite do Oscar. Dois incríveis apresentadores surgem no palco. O publico esta maravilhado com o poder e a beleza dos apresentadores. O público se emociona com os apresentadores, a não ser àqueles que estão com ciúmes. O público começa a aplaudir de forma descontrolada”. Assim, o roteiro do Oscar era escrito: Falava de Steven Martin e Tina Fey que emplacam um dialogo afiado para apresentar os roteiros indicados. MILK e SLUMDOG MILIONAIRE se consagram e o discurso de Dustin Lance Black é o mais inflamado da noite. Perfeito e comovente.


Novo segmento. Agora o de “Pré-Produção”. O cenário simula um set de estúdio, cheio de cor e detalhes e braque-braques. Sarah Jéssica Parker & Daniel Craig entregam os Oscars de Direção de Arte, Figurinos e Maquiagem. As apresentações e mudanças de categoria são interessantes, rápidas e dinâmicas. Ganha os favoritos e se revela a grande tendência dessa edição. É o Oscar mais previsível e imprevisível de todos os tempos. Digo nos Prêmios, falo do show.

Estava previsto, foi previsível… QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO? levou oito Oscars. Seria (a) sorte? (b) Genialidade? (c) Destino? Fico com (d) Encanto. Hollywood mastigou sua memória, enquanto o palco se enchia de ingleses, australianos, espanhóis, de músicos e orquestras indianas, e o filme vencedor era uma produção britânica de estética MTV e espírito bollywoodiano.

Quando Spielberg subiu ao palco para entregar o Oscar definitivo a SLUMDOG MILLIONAIRE, vemos ali algo simbólico: A oficialização do namoro entre Hollywood e Bollywood, com os britânicos como testemunhas. A joint-venture perfeita. Um mundo novo.


Um mundo com musicais. Sim, “O musical está de volta!”, gritou Hugh Jackman. O aceno de praxe à memória e à tradição de uma Hollywood que já não existe – nem a clássica propriamente dita, nem a dos anos 70. O musical está de volta? Porquê proclamá-lo agora com MAMMA MIA?

Puro desespero… Hollywood, a fábrica de sonhos, volta e meia é a primeira cliente de sua própria estratégia de produzir ilusão. E acredita, sinceramente, que a tradição, toda a sua riquíssima história, se atualiza e se reformula pelo simples proferir das palavras mágicas. O wishful thinking de Jackman foi o momento em que se exprimiu um drama que Hollywood tenta resolver: A audiência – O público que se esvai lentamente no zap profano dos canais televisivos.

O tributo aos musicais, criado e dirigido por Baz Luhrmann, levou nove dias de ensaio para Hugh Jackman pegar o pique. O interessante do número é que Baz Luhrmann usou a mesma idéia de MOULIN ROUGE: Tirou canções do contexto original, fez um pout porri jovem. Contou uma história, de AMOR SUBLIME AMOR a HIGH SCHOOL MUSICAL.

Funcionou? Claro! O pulo em audiência foi de 13% sobre os pálidos números de 2008, Foram 36 milhões de espectadores ligados no evento, contra 32 milhões do ano passado. A estratégia estava bem clara. O Oscar quer(ia) rejuvenescer…


Elenco de CREPUSCULO, HIGH SCHOOL MUSIC e MAMMA MIA! ganharam voz no palco. Os próprios blockbusters foram inclusos. Uma forma de a Academia incluir na festa, filmes muito populares que não tiveram chance ou menção, para deleite do público e desespero da crítica.

Jai Ho! O Oscar cumpriu sua trajetória. Era o destino, como diz o roteiro de QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO. Paixão foi a palavra-chave. Queen Latifah cantou durante/diante a montagem dos que se foram… Mais um exemplo de um Oscar que ficou “in memorian”.

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